28 de dez. de 2007

Crônicas:

A tecnologia pode nos levar ao fim

Nos dias de hoje existem professores de filosofia, mas não filósofos. H. D. Thoreau
Em 1852, Henry D. Thoreau, após formação em Harvard, abandonou sua vida na cidade. O estadunidense resolveu largar tudo e ir ao encontro do campo.

Aproveitou sua experiência com a fábrica de lápis de seu falecido pai e construiu com suas próprias mãos uma casa na floresta. Por lá morou uns meses. Encontrou sossego e vi-sitou a solidão. Alguns pensa-dores já diziam que só a solidão dá espaço para a produção intelectual. E foi o que aconteceu com Thoreau. Após sua volta para a cidade de Concord, na Carolina do Norte, escreveu A Desobediência Civil. Um livro que alfinetou a sociedade daquela cidade e modificou o pensamento político das próximas gerações, influenciando e sendo colocado em prática por Gandhi. Logo após, Thoreau também escreveu Walden -Sobre a vida no campo.

Assim como Thoreau, Sidarta Gautama, o Buda, precisou abandonar sua vida material para entrar em contato com seu interno, visitar suas origens e conhecer mais a fundo sua terra. No caso de Gautama sua intenção maior era o conhecimento interior, mas o que o relaciona a Thoreau era que os dois sentiram um momento de partir em busca de algo.

Hoje homens perdem seu tempo, criando artimanhas e artefatos para diminuir o tempo ou para prolongá-lo. Deixam pra lá a busca interna e criam uma realidade exterior baseada no material e no espetáculo dos meios de comunicação que definem o que é bom ou ruim pra você. Não quero ser fanático sem antes me incluir nisso, o que quero dizer é que de fato não estamos dispostos ao “conhece-te a si mesmo”, seja pelo conhecimento interior, a espiritualidade, ou pela busca de nossos princípios através da natureza. Busque! Nunca deixe de buscar, pensando firmemente no que te oferece a tv, o jornal e o Estado.

Será que é necessário distanciarmos a consciência de nossa História, destruir o planeta crendo que com a ajuda tecnológica será possível recriar o mundo? Estamos caminhando para a involução, deixando de lado to-da a sensibilidade com o mundo e com as pessoas. Caminhando para o fim, a ponto de banalizarmos o amor deixando de lado sua essência e significado.

O mito Matrix me parece vir à tona. Criamos máquinas que nos individualizam. Já não se pensa coletivamente e muito menos se vive o coletivo.

Viva com o menos, para viver mais.

Vou visitar o campo e levantar a bandeira que apenas com a volta às origens, o amor à terra, o contato com ela, nós podemos viver em abundância e SER mais. No lugar de ter muito e se acabar. Tenha menos e seja mais.

Pense mais, ame e diga não! Só mudando o interior para mudar o exterior.

Giovanni Lucas



Blogs e a Literatura Contemporânea
na Era Virtual

Na crescente onda virtual das criações artísticas está a literatura que vem dando saltos com as possibilidades de demanda de novos e jovens autores.
Se há alguns anos era impossível um escritor amador ter oportunidade de expor seus originais e escritos e o leitor conhecer outros autores, agora com os meios tecnológicos via rede ligando o telefone ao microcomputador tais coisas são possíveis. Bem-vindos à interação virtual, ou como queiram, aí está a Internet. A Internet pode ser vista como a linguagem construída na qual possibilita à comunicação ter dimensões globais.

Em pleno século XXI em um mundo em que é possível promover simulações e que na abundância de novidades tudo se eleva ao espetáculo, temos a máquina, a tecnologia em nossas mãos como mediação ou instrumento para produzir a arte.

Nossa identidade está impressa e gravada em páginas que circulam e tomam forma, nossas mãos se alinham e podemos compartilhar toda produção cultural, temos instrumentos para transpor todo trabalho intelectual para o meio virtual, texto e imagem se misturam e a arte evolui em seus limites.

Adorno e grande parte da Escola de Frankfurt se remexem em seus caixões, por condenarem todo o poderio que os meios de comunicações tomariam. Hoje o reflexo de tais previsões é que estamos num mundo sem limites no qual podemos bordar o céu ou o inferno na Terra. Em outras palavras a Internet quebrou as distâncias, já não é preciso sair de casa, mas em segundos transmitir uma mensagem para milhões de lares. Em contraponto em segundos um milhão de dedos e produções invadem nossos lares, vindos de mentes sãs ou não. Porém este não é o momento para julgar os rumos das comunicações e nem serão necessárias profecias apocalípticas.

Mas o que de fato pode se analisar é que hoje a literatura através da rede tornou mais felizes e mais possíveis as produções literárias. A arte pós-moderna, produto do misto de gêneros, realiza-se na literatura, no sentido de o novo ser possível em curto prazo. Esta é a era da velocidade, das poucas palavras, dos fait-divers, das imagens em quadros rápidos, do prazer sempre, rápido e em abundância. Seja isto bom ou ruim, é o que filtra e seleciona o que vai aplacar ou não a literatura em sua estante virtual.

Não é de hoje que o número de blogueiros cresce, os blogs já se elevaram à não apenas diários virtuais mas verdadeiros suplementos literários e quando fazem sucesso e são bem aceitos podem ser lançados ao mercado editorial, se tornam livros em sua forma física (papel) ou em sua forma virtual. Este caminho está revelando e servindo como ponte para estes novos autores.

Jovens como Daniel Pelizzari, André Cardoso Czarnobai, Daniel Galera, Joca Reiners Terron, são âncoras do movimento que faz uso da Internet para acelerar a circulação de suas produções. Cardoso, por exemplo, começou um blog coletivo com Galera e Pelizzari, logo ambos montaram a editora Livros do Mal, hoje Galera tem dois livros lançados pela editora Companhia da Letras, o último “Mãos de Cavalo” e o anterior “Até o dia em que o Cão morreu” foi agora adaptado para o cine por Beto Brant com o nome de “Cão sem Dono”.

Outros leitores se elevaram na demanda pelo uso da Internet, estes são exemplos de como a arte usou do artifício da tecnologia para se sobressair e tomar novos rumos. Tais tecnologias também serviram de suporte para a possibilidade de propor a independência dos meios, na medida em que facilitou a distribuição de vídeos, imagens e texto. O crescente levante do site You Tube é o maior exemplo do fenômeno, o problema da má distribuição do audiovisual se resolveu com a possibilidade de postar um vídeo na rede.

Nossa identidade e construção cultural está impressa e corre nas páginas da Internet, o exemplo da grandeza de tal é o Orkut, o site de relacionamentos que transmite a identificação pessoal e possibilita a observação da identidade alheia. No caminhar da grande produção virtual/cultural movida a alta velocidade também está o excesso de lixo e de produções de má qualidade, diríamos como já expressado em síntese que o ruim aos olhos seria aquilo que destoa de sua essência.

A arte em si no seu sentido de pós-moderna é como híbrida, ou seja, acompanhada de vários elementos, o mesmo aliado à Internet leva à tona a capacidade de trazer ao homem sensações novas e ilimitadas.

No caso de Daniel Galera é interessante observar que a semente intelectual brotada do uso da Internet o tornou um célebre escritor revelado pela renomada editora Companhia das Letras, e o antes blog tornou-se site, transformou-se em livro e logo o mesmo se transformou em audiovisual, o filme “Cão sem Dono”, e agora o filme tem seu site.

A Internet nos dá alinhamento para caminhos antes quase impossíveis. É a rede usada como instrumento para a arte e vindo a calhar para causar novas sensações para o homem.

Giovanni Lucas

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