A Grande Onda em Kanagawa, 江戸日本橋 ou Kanagawa-oki nami-ura de Katsushika Hokusai do seu trabalho 36 vistas do monte Fuji, 富嶽三十六景 ou Fugaku Sanjū-Rokkei.
título original:Ukiyo-e
por Thomas Suzuki
Em janeiro de 2007, acompanhei os trabalhos de 150 grafiteiros que cobriram o maior mural temático do mundo no túnel da avenida Paulista. Pelos jornais, soube que um dos coordenadores do projeto “Olhar Nascente” foi Walter Tada Nomura, o “Tinho”. Mas lá no túnel, eu só vi artistas gaijins participando dessa homenagem ao centenário da imigração, nenhum nikkei. Por que? Infelizmente, talvez seja porque o grafite ainda é visto como uma arte marginal, uma arte menor.
Eu vi apenas duas mulheres grafiteiras. Uma delas, sozinha, desenhava habilmente ondas enormes arrebentando-se umas contra as outras. Por trás das ondas, o monte Fuji e um sol estilizado. Essa imagem atiçava minha memória, “Já vi isso antes!”, mas minha ignorância em relação às artes visuais do Japão não me permitia localizar a obra original, nem seu artista. Algum tempo depois, descobri: a obra chama-se 神奈川沖浪裏 Kanagawa Ōki Nami Ura (A grande onda de Kanagawa) da série 富嶽三十六景 Fugaku Sanjū-Rokkei (36 vistas do monte Fuji) desenhada por 葛飾北斎 Katsushika Hokusai entre 1826 e 1833. Quem foi Hokusai? Pintor e gravurista, nasceu e viveu em Edo (atual Tokyo) de 1760 a 1849. Produziu mais de 30 mil obras e é reconhecido principalmente por essa série de xilogravuras do monte Fuji, que, na verdade, é composta por 46 peças (10 foram acrescentadas mais tarde).
A curiosidade aqui fica na relação entre as técnicas de Hokusai e daquela grafiteira do túnel. Alguns críticos de arte (daquela época e de hoje) desprezam a xilogravura e o grafite por serem “populares”. O grafite é a arte nas ruas, ninguém pode comprar, ela está lá pra todo mundo ver, de graça: não tem que pagar entrada de museu, não tem que dar o lance mais alto do leilão. A xilogravura é a arte de preço acessível: o artista entalha o desenho na madeira, passa as tintas e vai imprimindo as cópias, várias, seriadas ou não, limitadas ou não, enquanto a madeira resistir ao desgaste ou até a quantidade desejada pelo artista. Assim, Hokusai deve ter vendido dezenas, centenas ou milhares de reproduções da grande onda de Kanagawa.
Quem comprava as gravuras de Hokusai? As geishas da antiga Tokyo (Edo), que ainda não era a capital (apenas em 1869), e pequenos comerciantes que não tinham dinheiro para comprar telas pintadas, nem tempo para viajar e ver Fujisan. A Edo do shōgunato Tokugawa (1603-1868) tinha uma estrutura de entretenimento com muitos teatros de 歌舞伎 kabuki e de 文楽 bunraku (teatro de bonecos), alguns 相撲 土俵 sumō dohyō (arenas de sumō), muitas お茶屋 ochaya (casas de chá) e muitos 料亭 ryōtei (restaurantes luxuosos e tradicionais), onde geishas recebiam os 大名 daimyō (senhores feudais) e samurais. Enfim, um lugar leve, lascivo e alegre onde desenvolve-se a 浮世絵 ukiyo-e (pintura do mundo “flutuante”). Além de Hokusai, destacam-se outros dois gravuristas: 歌川広重 Utagawa Hiroshige e 喜多川 歌麿 Kitagawa Utamaro; suas gravuras retrataram os atores do Kabuki, as belas mulheres de Edo (美人 bijin, geralmente as geishas), os 力士 rikishi (lutadores de sumō) e os 名所 meisho (lugares famosos), como o monte Fuji.
Na Restauração Meiji (1868-1912), as obras desses artistas chegaram à Europa e influenciaram (“le japonisme”) pintores impressionistas como Manet, Mary Cassatt, Degas, Pierre-Auguste Renoir, Monet, Camille Pissarro; os pós-impressionistas, Pierre Bonnard, Henry de Toulouse Lautrec, Vincent van Gogh, Paul Gauguin e Klimt; e no século XXI, aqueles 150 grafiteiros do túnel da paulista.
fonte:Abril
Comercial argentino de Brahma tem travessia surreal pelo deserto
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O filme foi produzido pela Mamá Húngara com direção de Fede García Rico,
reconhecido pelas narrativas cômicas e impactantes.
Um comentário:
Giovanni, obrigado pela referência!
Parabéns pelo site!
.Thomas Suzuki
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